Pedro
Marangoni é, infelizmente, um personagem brasileiro pouco conhecido, um tipo de
herói de guerras esquecido em tempos de paz e império do politicamente correto.
Ex-piloto da Força Aérea Brasileira, integrou-se à Legião Estrangeira Francesa na
década de setenta e, a partir daí, lutou em diversos conflitos no continente
africano, sempre contra regimes ditatoriais. Sua história é contada no livro “A
Opção pela Espada”, de sua autoria.
Enquanto
Marangoni conta uma briosa e corajosa história em seu livro, uma notícia recente, veiculada na seção policial de alguns jornais, nos remete a uma triste e
vergonhosa realidade brasileira: o acovardamento da sociedade.
O
caso noticiado aconteceu em Uberaba, interior mineiro. Mais uma lotérica, cheia
de clientes, foi assaltada. Até aí, nada de anormal, são milhares as
ocorrências assim. O inusitado está na arma utilizada pelo assaltante: uma
enxada.
Por
mais surreal que possa parecer, o assaltante chegou à lotérica em uma moto, com
a enxada nas mãos. Se dirigiu ao caixa, arrombou uma porta e, ameaçando usar
sua “arma” contra os presentes, levou o dinheiro que conseguiu. À exceção de um
ou dois que saíram discretamente, os clientes acompanharam a ação estáticos,
como se a “arma” do assaltante fosse de uma enorme letalidade em massa.
A
ação, filmada por câmeras de segurança que registram sem nada coibir, demonstra
o quanto a sociedade está tomada pelo pânico. Não se raciocina mais sobre a
efetividade ou extensão da ameaça, simplesmente há a rendição ao menor sinal de
ataque. Não tarda e alguém vai conseguir roubar sob a grave ameaça de um grito –
“passa a carteira ou eu vou gritar!”. É o comportamento que resulta da
disseminação histérica do discurso de não reação, como se isso fosse garantia
de sobrevivência – e não é, haja vista os inúmeros casos noticiados diariamente
sobre latrocínios sem que a vítima sequer esboce reagir.
O
fato é que o medo está instalado, e uma população com medo aceita e cede a
tudo. Cenário perfeito para a profusão do autoritarismo e a multiplicação
incontrolável da violência.
Há
dez anos, o país elegeu as armas de fogo como vilãs da criminalidade e desarmou
o cidadão, ao passo em que os bandidos, que pouco ligam para as leis, se armaram
ainda mais. Sem armas para se defender, qualquer coisa serve para atacar, o que
comprovam os cada vez mais frequentes casos de crimes cometidos com os mais
variados objetos. Facas, machados, martelos, pedras, garrafas, ou um
guarda-chuva, qualquer coisa que se levante é o suficiente para paralisar cidadãos
amedrontados. Para o bandido, é só fazer a opção; a do ladrão de Uberaba foi
pela enxada.
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Fabricio Rebelo é bacharel em direito, pesquisador em segurança pública e diretor executivo nacional na ONG Movimento Viva Brasil.